#quartaascinco – Memória e cidade: os museus sociais do Rio de Janeiro

Com a presença de representantes dos Museus do Horto (Emerson de Souza) e das Remoções (Sandra Maria Teixeira) e de acadêmicos que se dedicam a estudá-los (Diana Bogado, Laura Olivieri e Mario Chagas), o encontro promovido pelo CENTRAL e o GEDRED abordou o fenômeno da museologia social na cidade do Rio de Janeiro.
A formação dos museus comunitários do Rio tem suas origens no Programa Pontos de Memória, criado em 2009 como fruto da parceria entre o Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura, e o Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania – PRONASCI, do Ministério da Justiça.

O Programa Pontos de Memória identificou, inicialmente, doze comunidades localizadas em bairros periféricos do Brasil, reconhecidas por desenvolver ações de registro, preservação e divulgação de suas memórias. As comunidades selecionadas integraram um projeto-piloto e a experiência foi replicada nos anos seguintes, seguindo a mesma lógica.
A museologia social se propõe a redefinir a ideia de museus e a se distanciar daqueles tradicionais espaços expositivos construídos como símbolos do poder dos Estados nacionais.  A proposta deste movimento de transformação museológica nasce no final dos anos de 1970 e, como disse Mario Chagas, se traduz em museus concebidos como espaços vivos, museus voltados à vida na cidade. Para ele, essa proposta “está comprometida com a redução das injustiças e desigualdades sociais”, sendo importante instrumento de luta das comunidades vulnerabilizadas por ameaças de remoção e apagamento social.

O Museu do Horto foi constituído a partir do resgate da memória da população local realizado pela pesquisadora Laura Olivieri em constante diálogo com a comunidade. Ele se define como Museu de Percurso, uma vez que não conta com uma sede e tem como objetivo expor a história da comunidade no bairro de referência. O Museu das Remoções, por sua vez, se constitui em um Museu de Território, em que a ideia é expor as ruínas e memórias da comunidade e das remoções realizadas durante a preparação da cidade para os Jogos Olímpicos de 2016. Diana Bogado ainda reforçou o caráter contrário à urbanização neoliberal que estaria no cerne da proposta deste museu. Em ambos os casos, a memória se constitui como importante instrumento na luta pela moradia e pela permanência naqueles locais.

Emerson de Souza afirma que a valorização da memória potencializou a sensação de pertencimento comunitário: “hoje a gente luta com a cabeça erguida”. Sandra Maria Teixeira concorda; segundo ela, os museus recobram a voz da comunidade. Isso porque o Museu das Remoções recebe dezenas de visitantes mensalmente, de diversos países, favorecendo a divulgação da luta comunitária, o fortalecimento das redes de apoio e, consequentemente, a resistência contra o apagamento social.

Por Taísa Sanches