#quartaascinco – Heloísa Pontes e Rafael do Nascimento César

O Núcleo de Estudos e Projetos da Cidade – CENTRAL, realizou, no dia 09 de outubro, mais uma edição do #quartaascinco, atividade de extensão da PUC-Rio que vem contando com bom público. Nessa edição, sob a curadoria da coordenadora do CENTRAL, Profa. Maria Alice Rezende de Carvalho, o tema tratado foi “Experiências urbanas e produção cultural: possibilidade comparativas entre o Rio de Janeiro e São Paulo”, e contou com a presença da Profa. Heloísa Pontes (Titular do Departamento de Antropologia da UNICAMP), e Rafael do Nascimento Cesar, doutorando em Antropologia Social (UNICAMP).

A proposta de relacionar cidade, produção cultural e gênero foi tratada a partir da reflexão do teatro e da música pelo prisma da casa e da domesticidade, tendo como foco a comparação entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Tal comparação tomou como objeto privilegiado de análise as trajetórias de Chiquinha Gonzaga e Cacilda Becker, mostrando como no teatro e na música sua presença avançou importantes transformações no cenário nacional.

Conforme discutido, o teatro, pensando enquanto atividade social coletiva inseparável da vida urbana, atuou como caixa de ressonância dos descontentamentos citadinos no início da vida republicana, configurando uma poderosa ideia de público ainda em disputa. Pontes e Cesar indicaram como o teatro foi, nesse contexto, capaz de colocar em suspensão determinadas convenções sociais conformando uma cultura “porosa” na cidade do Rio de Janeiro, local de encontro e criação. Será neste cenário que Chiquinha Gonzaga despontará como a primeira mulher a reger uma orquestra, trazendo, ainda, para o proscênio dinâmicas mais populares de produção musical.

Na capital paulista, por sua vez, o teatro ganhará aporte institucional capaz de conferir outros contornos ao plano cultural. Se no Rio do entre séculos o teatro era marcado pelo baixo grau de profissionalização dos artistas, São Paulo consolidou o teatro moderno no país. Foi nesse contexto que Cacilda Becker avançou sua trajetória, na qual o corpo não belo figurava como suporte para a criação cênica. Sua origem social precária se converteu em suporte expressivo da atividade teatral.

A cidade surge, assim, como base de sustentação da atividade cênica, testemunhando trajetórias simétricas e inversas: Chiquinha Gonzaga, a menina bem-nascida que se lança na atividade profissional por necessidade, abrindo caminho para tornar-se a primeira maestrina brasileira; Cacilda Becker, a menina pobre que se firma numa dramaturgia de reconhecido valor literário.

Num segundo momento da discussão, Pontes e Cesar apresentaram uma reflexão sobre a importância dos apartamentos de Nara Leão, no Rio de Janeiro, e Caetano Veloso, em São Paulo, para a construção de um cenário profícuo na produção musical da época. Em seu argumento, devemos abandonar a ideia do doméstico como avesso ao público, pensando a casa como uma poderosa máquina performativa de gênero capaz de ensejar uma determinada economia dos afetos.

A proposta de pensar a cidade a partir de dinâmicas de produção cultural em traços comparativos constituiu o argumento central da sessão. Pontes reforçou que comparações permitem lastros empíricos produtivos para o entendimento da vida na cidade, evitando discussões abstratas e de caráter excessivamente normativo. Do encontro participaram ainda Marcelo Burgos, diretor do departamento de Ciências Sociais, Luiz Werneck Viana, Lucia Lippi, Helena Bomeny, Simone Dubeux e estudantes de diversos cursos.

Por Diogo Tourino de Souza